“Se eu soubesse antes o que sei agora,
Erraria tudo exatamente igual.” (Humberto Gessinger).

Pedir desculpas é bem mais difícil do que se imagina.

Ainda crianças, somos ensinados a pedir desculpas e a desculpar. Ensinam-nos que errar é humano, em discursos rasos, vindos dos nossos pais, educadores e demais adultos que cercam a nossa infância. A teoria é bacana, mas na prática o que acontece é o contrário.

Lembro-me das vezes nas quais eu pedi desculpas e confesso que quase nunca recebi uma resposta positiva, reforçadora, que de fato me mostrasse que aquele comportamento havia valido a pena e que eu deveria agir sempre daquela forma. O que geralmente se ouve como resposta a um pedido de desculpas são sermões, discursos ofendidos e detalhados sobre a gravidade do ocorrido e talvez no fim um “tudo bem deixa para lá”, acompanhado de um “não faça mais isso” geralmente vindo de um interlocutor que se faz de vítima.

Cada vez mais eu reforço a minha tese de que não sabemos desculpar ninguém: nem a nós mesmos, nem ao outro – mesmo quando ele nos pede desculpas.

Analisando detalhadamente as motivações que nos levam a pedir desculpas, vemos algumas variáveis importantes:

-Pedimos desculpas quando de fato percebemos o nosso erro, ou seja, já aprendemos e isso faz com que o discurso de apontamento do erro acompanhado da vitimização é pouco útil;

-O outro para quem fizemos algo de errado tem grande importância no rol de nossas relações, e esperamos que ele nos perdoe exatamente por isso;

-Para pedir desculpas, temos que superar e sermos maiores do que o orgulho, e ser maior que o orgulho é coisa de gente “grande”.

Os pontos acima são três obstáculos bastante difíceis de serem ultrapassados, porém, ao contrário do que deveria acontecer, não somos bem recebidos ao conseguir e então pedir desculpas, e por mais que a palavra sugira um pedido de que nos livrem da culpa, o que recebemos é exatamente a constatação de que ela é de fato nossa. A necessidade de encontrar culpados é infinita nos seres humanos!

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Superar o orgulho e chegar ao outro para mostrar-se arrependido, assumir um erro ou constatar que não sabia algo e aprendeu – precisando errar para isso – é uma ação digna e que deveria ser vista com muita admiração, porém, ao contrário disso, parece que a humanidade, em mais um de seus acidentes de percurso, acha mais bonito ser orgulhoso. O orgulho – erroneamente confundido com amor próprio – é um defeito grave e muito perigoso e não pode ser conceituado como uma qualidade.

Então, quando lhe perguntarem onde está o seu orgulho, o melhor é responder que graças a quem quer que seja você não o tem. É exatamente o orgulho que nos impede de perdoar quem nos pede perdão. E cá entre nós, me permita uma pergunta: Quem é você mesmo para não perdoar alguém ou não perdoar a si mesmo?

Quem não perdoa o outro não perdoa a si mesmo nem tampouco percebe que também erra. Quem imagina ter o direito de, ao receber um pedido de perdão, tecer uma tese detalhada sobre o erro alheio provavelmente ainda nem saiu da pré-escola da vida e nunca teve sequer a coragem para olhar para seus próprios erros, escolhas e acidentes de percurso.

Desconfio de gente que não pede desculpas, que não consegue desculpar o outro com afeto, carinho e que não tem a capacidade de deletar o que o outro fez de errado, dando-se ao direito de sentar-se no trono de vítima. Este tipo de gente é o que mais erra. Gente que se faz constantemente de vítima não aprende quase nada na vida, porque a vítima nunca erra, ela é sempre a vítima não é mesmo?

Gente de verdade erra muito e erra sempre tentando acertar. Gente capaz de amar é gente capaz de perdoar setenta vezes sete como disse um grande mestre – se me permitem – o maior deles quando o assunto é amor. Gente de verdade recebe o pedido de desculpas com os braços abertos, com um sorriso nos lábios enquanto diz “esquece isso” seguido de um abraço.

Gente de verdade pede desculpas sem medo e sem orgulho porque sabe que o mais importante é o amor. Gente de verdade esquece todos os erros do outro e se lembra de cada acerto e de cada momento bom vivido naquela relação. Gente de verdade sabe que errar faz parte da vida de quem vive de fato, de quem se arrisca, porque, cá entre nós, quem tem medo de errar perde quase tudo que vale a pena. Quem tem medo de errar o tem porque não se perdoa e não perdoa ninguém. Quem tem medo de errar não vive – sobrevive e se arrasta sem fazer nada que possa dar certo exatamente pelo risco de errar.

Gente que não perdoa é gente infeliz.




Psicóloga, psicoterapeuta, especialista em comportamento humano. Escritora. Apaixonada por gente. Amante da música e da literatura. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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