Podemos estar na nossa sala de trabalho fazendo nossas atividades e não estar ali presentes. Podemos ir a um encontro familiar e não estar presentes. Podemos frequentar um curso e não estar nele presentes. Podemos, até mesmo, nos relacionar sexualmente com alguém sem estarmos presentes. Na verdade, muitas pessoas não estão presentes na maior parte das coisas que fazem.

Estar presente é estar com a ALMA ali. Não adianta só o corpo estar, pois o corpo disfarça muito bem. Nós conseguimos fazer com que pareça que realmente estamos presentes, quando estamos muito, muito longe. Falamos, olhamos e agimos como se estivesse tudo certo, tudo ali, mas pode não estar.

E a nossa mente é a grande vilã nessa história. Ela pode nos fazer ficar boa parte do tempo viajando para o passado e para o futuro, para outros lugares, outras dimensões, aos nossos mundos hipotéticos, às possibilidades, aos sonhos e aos traumas. Pode nos fazer ir, mentalmente, ao encontro de pessoas que estão distantes, de situações que não foram bem resolvidas, de lugares que poderíamos estar, mas não estamos. Na verdade, ela funciona demais da conta…

E, ao não estarmos presentes, perdemos a maior dádiva da vida, que é, verdadeiramente, VIVER. E viver é sentir o que está acontecendo exatamente agora, exatamente onde se está fisicamente e exatamente com quem se está. Ao brincar com os nossos filhos com a cabeça nos novos possíveis projetos de trabalho, na verdade, não estamos ali, não estamos presentes, não estamos com eles brincando. Ao trabalhar pensando nas decepções amorosas que passamos, certamente não estamos presentes no trabalho, não estamos vivendo aquele momento em toda a sua plenitude.

E, sem querer, podemos acabar ligando um piloto automático permanente e passar o dia lá longe, fora daqui, fora de si, enquanto o nosso corpo vai fazendo mecanicamente tudo o que está programado. Isso é muito triste, por mais que possamos ainda não ter nos dado conta.

A vida vai passando e, se não estivermos suficientemente presentes, nem perceberemos. Viveremos histórias que só existiram na nossa mente e não a nossa história real de vida. E isso trará prejuízo a tudo o que nos envolve (familiares, trabalho, amigos…), mas, sobretudo, a nós mesmos.

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Por isso é tão importante nos darmos conta de que necessitamos prestar atenção ao que se passa na nossa cabeça. No que estamos pensando. Se estamos ficando presentes o suficiente no AQUI e AGORA. A nossa mente não pode ser terra de ninguém, território sem lei.

E é nesse contexto que se fala tão bem da meditação, inclusive a ciência a está reconhecendo como muito benéfica em vários aspectos. A meditação nos faz dar um tempo nas nossas “viagens” e na nossa mente tagarela. Descansar. Aliviar.

Sim, pode ser difícil meditar, ainda mais nas primeiras vezes. Estamos acostumados ao completamente contrário, nos ensinaram que é mais “produtivo”. Mas começar com um minuto ao dia é uma boa pedida. Um minutinho de nada para simplesmente respirar e sentir a existência. Não é sair do ar, ao contrário, é estar completamente presente, completamente consciente, mas simplesmente sentindo, sem julgar, sem raciocinar, sem catalogar, só se conectando a tudo o que nos cerca.

Ainda que a princípio possa ser uma tortura, se persistirmos a coisa começa a ficar boa. Prazerosa. Revigorante. Até passar a ser essencial, a fazer falta.

Dar uma trégua para a mente, um espaço de tempo para o descanso. Isso nos centra. Isso nos ajuda a voltar ao aqui/agora. Isso nos permite estar mais e cada vez mais presentes. Onde quer que estejamos.




Servidora pública de profissão, escritora de coração. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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