Detonautas diz em uma de suas canções: “a solidão quem me ensinou a ser mais forte e a qualquer lugar eu vou sem medo”. A primeira vez que ouvi essa frase ser ecoada em meus fones refleti sobre como soava forte, tanto a melodia agitada em parceria com a voz rouca do vocalista, quanto à letra em si.

Hoje, anos após a primeira vez penso em como a afirmação além de bonita e forte é também verdadeira. A solidão carrega em si uma dureza reconhecida apenas por quem a enfrentou cara a cara, olhando em seus olhos e sabendo que frente ela não há meias verdades, nem meias palavras. Quando o vazio de estar sozinho se encontra com você traz junto o excesso de pensamentos, questionamentos, dúvidas e incertezas sobre si e sobre o mundo.

Estar sozinho não significa necessariamente caminhar em uma rua deserta, trabalhar em uma sala de paredes brancas tendo apenas o computador por companhia, ou até mesmo sentar-se numa mesa de restaurante e apreciar as demais pessoas rindo enquanto comem. A solidão não é algo físico; solidão é um estado de espírito.

É possível estar numa roda de amigos conversando, bebendo e rindo e mesmo assim sentir-se só, e de repente se pegar pensando sobre como deve ser divertido verdadeiramente ser parte do círculo daquelas pessoas. É possível segurar a mão de alguém enquanto caminha em meio às flores de um parque e mesmo assim não se sentir acompanhado. (Infelizmente) é comum ter uma agenda repleta de contatos e não ter com quem conversar.

Isso não acontece porque sejamos menos importantes ou algo do tipo, mas sim porque algumas situações precisamos enfrentar sozinhos; são conversas entre você e o seu eu que necessitam acertar os pontos da existência e descobrir juntos a melhor maneira de continuar caminhando nessa estrada íngreme, curva e escorregadia chamada de vida.

E nessas conversas que podem durar horas, dias e até anos descobrimos tantas verdades, aprendemos tantas soluções. Quando estamos a sós com nós mesmos percebemos o quanto nossa alma está fragilizada com as pressões sofridas todos os dias, e isso nos faz repensar o quanto está valendo á pena permanecer em algumas situações. Quando uma rachadura surge na parede de casa instantaneamente procuramos pelo ponto inicial da abertura, na esperança de não permitir que aquele dano aumente. Quando nos sentimos sós fazemos exatamente isso, porém com nossos machucados internos. É na solidão que sentimos as dores mais profundas de nossa existência, e a partir disso percebemos o quanto algumas coisas não estão nos fazendo bem.

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Quando você se sente só no sábado à noite por não ter com quem sair e se depara com uma foto de seus novos amigos em um bar, automaticamente lembra-se de que seus amigos antigos sempre o convidaram para sair, mas você insistia em dizer não na expectativa de que as novas amizades o convidassem para algo legal. Bem… Não convidaram.

Sentada numa cadeira de corredor de hospital às 3 da manhã de uma quinta-feira, ligando insistentemente para o namorado que não atende, percebe que seu pai pode até ser bem chato, mas estria ali caso você o tivesse avisado antes de sair de casa.

Quando está sentado sozinho num banco de praça tomando sorvete e avista um casal discutindo de maneira ríspida se dá conta de que o ditado “antes só que mal acompanhado” é uma bruta de uma verdade.

Ao sentar-se para ler um livro com uma xícara de café ao lado, e após meia hora ter lido 5 páginas sem nenhuma pausa, pensa que afinal, estar sozinho pode não ser assim tão ruim. Mas ao acordar às 5 da manhã e se deparar com uma barata na parede do quarto e não ter ninguém para lhe ajudar a fugir daquele monstro pensa que afinal, seria muito bom ter alguém por perto.

A solidão é capaz de abrir nossos horizontes sobre os dois lados da vida. Estando só percebemos os comportamentos ao nosso redor com mais clareza, e buscamos com maior afinco por companhias que realmente queiram estar ao nosso lado.

Permanecer só não é a melhor coisa do mundo; precisamos de convívio, de um bom amigo para dar um chacoalhão quando fizermos escolhas ruins, e também para assistir ao novo filme da D.C. bebendo refrigerante e comendo Doritos. A interação com outras pessoas faz bem ao coração e ao cérebro, mas estar só, por vezes também é capaz de fazê-lo.

Estando só temos tempo de verdadeiramente cicatrizar as feridas abertas pelas situações difíceis enfrentadas todos os dias; aprendemos a ir sem medo ou com medo, ou com um pouco de medo… Não importa! Quando caminhamos sem ter onde nos apoiar percebemos que a vida não espera ninguém, e besteira mesmo é permitir que um sentimento nos impeça de viver. Sozinhos nos damos conta do valor daquelas pessoas que tentaram de todas as formas permanecer em nossas vidas, e de como fomos egoístas fechando-lhes as portas. Olhamos o céu e nos damos conta do quão pequenos somos ante à grandeza do universo, e assim passamos a respeitar melhor as circunstâncias que nos cercam.

A solidão é uma imensidão dentro de nós que parece nos consumir a todo instante, mas preciso lhe dizer: ela o consumirá apenas se você o permitir. Caminhando sem sapatos há muito mais para aprender que a lamentar. Por difícil que seja atravessar esse caminho que mais parece um breu lembre-se de que as estrelas brilham apenas quando a noite verdadeiramente escurece.

Ao se sentir só tenha a certeza de que você é sua melhor companhia, e se neste momento aparentemente não há quem lhe segure a mão, o mundo está apenas ensinando-lhe a perceber melhor as pequenas coisas que todos os dias nascem e morrem dentro de você. Logo mais ele lhe trará quem lhe estenda a mão, inclua em oração, divida uma canção e abrigue no coração.




Há quem diga que os olhos são a janela da alma, então, no meu caso, eles são uma janela bem grande e aberta. Amante das artes, do universo e das palavras, necessito de música para viver, dos astros e estrelas para pulsar e dos versos para existir. A publicidade me escolheu; por isso anuncio paz, promovo sorrisos e transmito intensidade. Sou colunista do Fãs da Psicanálise.

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