Acho bonito o casal que não se desgruda. Gosto de olhar os amantes que vivem juntos, andam para cima e para baixo agarrados, atados feito gêmeos siameses.

Admiro duplas inseparáveis, pares perfeitos e outras aves raras. Sinto alegria por essa gente e faço votos de que seu amor perdure e frutifique. Mas eu confesso, sem orgulho nem tristeza: isso não é para mim, não.

Respeito quem acredita que pouco consegue fazer na vida sem a presença de sua cara-metade, quem não vai a lugar nenhum desacompanhado, quem liga duzentas vezes ao dia para o ser amado, mesmo sabendo que vai encontrá-lo à noite.

Respeito. Mas não sobrevivo cinco minutos em situação assim. Eu preciso ficar um pouquinho comigo mesmo. Careço estar sozinho, mesmo estando acompanhado.

Compreendo quem esbraveja “então é melhor não estar com ninguém, pô!”. É o que eu ouço quase sempre, quando conto a minha tese. Entendo quem me olha raivoso e decreta: “assim você vai morrer só” e outras sentenças. Mas eu não acredito em nenhuma delas.

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Para caminhar ao lado de alguém não é preciso se acorrentar a ele, renunciar ao resto do mundo, repelir tudo o que mais exista e não possa ser vivido em casal. Isso não é respeitar o outro, não. É anular a si mesmo. Abrir mão da individualidade sem a qual o amor não seria possível.

Não, eu não estou defendendo as chamadas “relações abertas”, como um ou outro talvez imagine. Não me interessam triângulos amorosos, orgias emocionais e afins. Nada disso. Eu só acho que a felicidade de um casal reside na preservação dos indivíduos que o formam.

Casais felizes se aceitam como pessoas únicas, indivíduos imperfeitos, seres falhos que não são obrigados a se completar nem a transbordar coisa nenhuma. Apenas se encontram, se admiram, se desejam, se apoiam e seguem adiante como querem.

Juntos, sim. Mas não colados, grudados, presos um ao outro o tempo todo feito irmãos xifópagos atados pelos ossos, dividindo os mesmos rins, vivendo com os movimentos comprometidos e a visão limitada.

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Esse tipo de amor não me serve, não. Respeito mas rejeito. Viver grudado é para os siameses.

Casais felizes se querem livres e fortes como aves afins, ora migrando juntos para outro canto, ora voando sós e sãos, unidos como indivíduos em toda a saúde de seu amor.




Jornalista de formação, publicitário de ofício, professor por desafio e escritor por amor à causa. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

3 COMENTÁRIOS

  1. Perfeito. Resume exatamente a minha forma de pensar..Antes de sermos dois, somos um. É por mais que tenhamos a vontade e disposição para estar junto de alguém, não devemos deixar nossa individualidade de lado.. É normal querer ficar sozinha pra pensar, relaxar ou até mesmo dar uma volta no shopping (eu adoro), e isso não quer dizer q menospreze o outro, é claro que não, vc apenas está tendo um momento para você, e dando a opção do seu par também fazer algo sozinho tbm (por quê não?).Mas pena que a grande maioria não pensa assim, e prefere se sufocar e sufocar o outro..Quer obrigar que 2 seja 1, quando o melhor seria 1 +1.

  2. Perfeita colocação, só achei que faltou mencionar o fato se tamben ser normal se alguns casais optam pela relação aberta, e gostam de triângulos amorosos ..
    Isso também é uma escolha…
    Tem gosto pra tudo nesse mundão gente!!!!
    O importante é ser feliz Respeitar os acordos feitos?????

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