Gratidão é palavra que está na moda, e indica, geralmente, a intenção da pessoa em dizer que é agradecida por algo. Mas gratidão é palavra que sugere muito mais que um agradecimento, posto que evoca um estado de espírito.

Gratidão é um sentimento que se tem, não por que ser quer, mas porque se sente, do fundo do coração. Aquilo que vem do coração, está dado num nível profundo do ser. Mas como é isso?

A gratidão é resultado de um processo, ligado as transformações pessoais. Não podemos ser gratos, se não compreendemos a que estamos sendo gratos. Não se trata de agradecer a algo como um gesto, uma palavra, uma situação; a isso agradecemos mais por educação, por gentileza, ou coisa assim.

Gratidão é o entendimento no profundo do ser, resulta do processo de transformação imposto pela vida, pelas experiências vividas, pelos altos e baixos emocionais, pelas derrotas e vitórias, que num dado momento de nossa existência, percebemos seu significado e; mais que isso, percebemos o quanto foram importantes em nosso amadurecimento e em nossa trajetória de vida; e somos gratos por isso. Aceitamos.

E quando nosso coração está preparado pra sentir gratidão?

Quando perdoamos os outros, quando perdoamos a nós mesmos. Quando humildemente olhamos pra trás, e reconhecemos tudo o que nos aconteceu, aceitamos as coisas boas como resultado de nossos esforços e da nossa alegria em viver, e aceitamos as ruins como necessárias ao nosso amadurecimento e nossa caminhada para nos tornarmos melhores do que somos. Gratidão, é a compreensão no coração de que a vida nos fez melhor do que éramos antes. É aceitarmos nossa arrogância, nosso rancor, nosso desejo de culpar os outros pelo que é de verdade, nossa pequenez como pessoa.

Quando aceitamos no coração nossas fragilidades, e as assumimos, estamos prontos pra sentir gratidão. Gratidão é sentir no profundo da alma. Gratidão é o sentimento de quem aceita.

Perdoar a si mesmo e aos outros, não é fácil. Exige ter escolhido romper com o orgulho, com a autossuficiência, com a ideia de que somos donos do nosso destino. Quem viveu um pouquinho e, experimentou a vida mais do que aquilo que queremos dela, sabe, que não somos autores e donos do que nos acontece. Aceitar isso é ser grato.

É fácil percebermos que não fomos senhores do que nos aconteceu, uma vez que não é incomum, olharmos com rancor ou, ressentimento, pra muitas coisas que vivemos ao longo da vida. Remorso, raiva, inveja, ressentimento, medo, são expressões de que ainda não somos gratos. Demora muito tempo pra enxergarmos como nossas experiências, dolorosas muitas vezes ou, quase sempre, foram importantes para a constituição daquilo que somos. Quando aceitamos, nos tornamos gratos.

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É necessário aceitarmos humildemente nossa responsabilidade sobre o que somos. Se nossas escolhas foram boas ou ruins, o resultado delas é apenas e tão somente responsabilidade nossa. Mas quantas vezes ao longo dos anos preferimos escolher culpados e, isso significa que não as aceitamos. Quantas vezes nos eximimos de nos responsabilizarmos, e apontamos o dedo aos outros, geralmente pessoas que amamos e nos amaram. Apontar o dedo aos outros é impedir o sentimento de gratidão.

Enquanto os outros são escolhidos para serem os culpados por nossas dores e arrependimentos, é porque ainda somos imaturos e infantis em sermos sujeitos da nossa própria existência. Ainda não somos capazes de percebermos nossa própria vida, de percebê-la como resultado dos caminhos que escolhemos trilhar. Quando aceitamos o que nos aconteceu e seu significado pra aquilo que nos tornamos, somos tomados pela gratidão.

Como disse alguém, “você realmente quer o que deseja?”, é uma pergunta que é lançada não apenas a respeito do que desejamos, mas sobre o resultado desse desejo. Quantas vezes ficamos longo tempo de nossa vida querendo algo, desejando, e uma vez realizado, conquistado o que se queria, nos damos conta de que não queríamos.

Tudo bem isso também; a questão, é se você assume o resultado do seu desejo como responsabilidade sua. Assumir o resultado do que acontece é maturidade. Pessoas imaturas não podem ser gratas em relação ao que não entendem sobre o que lhe aconteceu. Imaturo é aquele que tem a vida centrada em si mesmo ou desconhece o outro no teatro da vida. Maturidade é o processo mais importante antes da gratidão. Maturidade é estar preparado para ser o que se é, aceitar o que se é, aceitar que na vida tudo está em mutação, e somos um projeto em desenvolvimento, precisando sempre de ajustes e melhorias. Maturidade, e digo isso do ponto de vista emocional, é a capacidade de suportar a frustração, a limitação que compõe o nosso próprio ser. Aceitar isso é ser grato.

Quando percebemos que não somos seres acabados e prontos, mas que a vida é uma oportunidade pra delinearmos o que somos, com todas as dores e alegrias que isso implica, somos tomados por um sentimento de gratidão pelo que nos aconteceu, e como tudo foi importante pra nos descobrimos a nós mesmos, e termos clareza sobre o que somos ou o que precisamos nos tornar. Entender esse processo de amadurecimento e limitação leva ao sentimento natural de gratidão.

Gratidão, portanto, não pode ser um agradecimento, tem que que ser um sentimento profundo do ser que reconhece a vida como o palco onde ele atua e pode descobrir o que é. E o que somos se não um ser ligado ao profundo, não ao raso; um ser complexo e não simples; um ser que transcende sua própria existência e não apenas uma materialidade ligada a natureza.

Imagem: Dayne Topkin




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