A gratidão é dos estados de espírito mais difíceis de manter. Normalmente, somos gratos quando tudo nos está a correr bem, quando algo de bom nos acontece. Há um sorriso na nossa face e é fácil sentirmos gratidão. São momentos, instantes, que atravessam o nosso coração, mas que desaparecem assim que algo de menos bom nos aparece pela frente.

Frases como “Só faltava mais isto agora”, “Não tenho sorte nenhuma”, “Tudo me acontece”, entre muitas outras, só vêm mostrar a falta de gratidão que mostramos quando as coisas não nos correm de feição. Estes desabafos mais não fazem do que mostrar aquilo que pensamos sobre nós e de como não temos um pingo de gratidão por aquilo que estamos a viver, sempre na perspectiva de que atraímos aquilo que precisamos de trabalhar em nós mesmos.

A ingratidão é dos comportamentos mais próprios de todos aqueles que são vítimas sem o saberem. A vitimização nem sempre (ou quase nunca) é consciente. Uma vítima começa o seu caminho para deixar de ser vítima quando entende que se está a comportar como tal. A grande maioria das vítimas não se apercebe que está a sê-lo e condena todo aquele que lhe diz ou dá a entender que ela é uma vítima.

A vitimização está perfeitamente associada à ingratidão, porque uma vítima não é humilde. Ela é pura e simplesmente uma falsa humilde, alguém que gosta de dar alguma atenção quando na verdade está a agir de acordo com o seu maior interesse: atrair atenção.

A verdade é que sem humildade não existe gratidão. Muitas pessoas não sabem o que é humildade e, muitas vezes, não têm consciência do que é ser humilde.

A humildade é tão somente a capacidade de aceitarmos que não somos melhores que ninguém, nem que temos o direito de criticar ou julgar seja quem for. É a capacidade de nos colocarmos na pele do outro, sem o julgar ou criticar, e agir com essa pessoa em conformidade com o que gostaríamos que fizessem conosco se fossemos ela mesma.

Tendo em conta estes fatores, podemos adiantar quais são os três pressupostos necessários para se ser sempre grato.

1º – Louvar o nosso passado
Façamos o que fizermos, não vamos nunca poder mudar o que fizemos ou permitimos que nos fizessem lá atrás. Não importa se o resultado não foi aquele que mais queríamos. O que importa é que não podemos mudar mais nada do que foi feito no passado.

No entanto, qualquer um de nós pode optar por uma de duas escolhas: aceitar ou não aceitar o nosso passado.
Quem não aceita, revolta-se por não ter feito isto ou aquilo e acredita que toda a sua vida poderia ser hoje diferente e bem melhor. Normalmente, quem não aceita o seu passado, culpa alguém ou alguma coisa por a sua vida estar neste momento como está. A verdade é que não podemos saber como seria o nosso presente se o passado tivesse sido diferente. As probabilidades de ser melhor são exatamente as mesmas de poder ser pior. Quando nos agarramos à ideia de que podia ser melhor, agarramo-nos também à ideia de que gostaríamos que tudo tivesse sido diferente e não mudamos nada hoje.

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Na verdade, não aceitar o nosso passado é uma maneira de nos justificarmos por não estar a fazer nada para mudar o presente. Culpar os outros, liberta-nos da responsabilidade de fazer alguma coisa ou justifica-nos por não estar nada a dar certo na nossa vida.

Há dias, alguém comentava um texto meu dizendo “Falar é muito fácil”, ao que respondi “E não fazer nada é ainda mais fácil”. Esta é a verdade de quem não aceita o seu passado e não se acha capaz de empreender mudanças hoje no estado atual da sua vida. A não aceitação é uma desculpa para não mudar com medo de não se conseguir mudar.

Por outro lado, quem aceita, entende que, independentemente do que aconteceu, somos o resultado de todas as escolhas que fizemos ou permitimos que fizessem por nós lá atrás. O importante agora é ver aquilo que podemos fazer para mudar o resultado, se o mesmo não nos agrada ou queremos que seja de outro modo.

Aceitar o passado é louvar quem fomos, porque sabemos que somos o resultado de tudo aquilo que fizemos ou nos fizeram no passado. Só podemos aceitar quem somos, independentemente de gostarmos ou não, se aceitarmos quem fomos. Não existe outra maneira. Ao aceitar quem somos hoje, podemos mudar tudo aquilo que não gostamos ou não queremos do nosso lado ou em nós mesmos.

Louvar o passado é conseguirmos responsabilizar-nos pela nossa vida e agarrar o presente como o único tempo que existe e onde podemos de fato mudar alguma coisa.

2º – Viver o presente
O presente é o único tempo que existe e onde a mudança pode realmente acontecer.
Se queremos mudar o resultado do nosso passado é hoje e nunca ontem. O ontem já ficou lá atrás. O amanhã ainda não chegou. Só o presente, o momento de agora, nos permite mudar aquilo que não gostamos na nossa atitude ou vida.

Viver o presente é a maior dádiva de que podemos usufruir. Estar consciente do momento, seja ele qual for, é poder aprender e sentir o que vale a pena aprender e sentir. Se não louvarmos o nosso passado, só vamos sentir frustração ou sofrimento. Se nos colocarmos amanhã, o mais comum é sentirmos medo do que poderá vir a acontecer.

Tudo o que acontece, acontece agora, não amanhã. O que acontecer amanhã, será no hoje de amanhã. Nada do que acontece amanhã, acontece hoje. Só o que acontece hoje é na verdade o que acontece verdadeiramente. Esta é a principal razão porque não devemos fugir do hoje e escolher sempre vivê-lo de forma plena e consciente.

A gratidão é uma atitude que se constrói agora, mesmo que estejamos a senti-la pelo nosso passado. A gratidão é algo que acontece sempre que entendemos que nem tudo aquilo que vem ter conosco é o que queremos, mas é sempre aquilo que precisamos para aprender a fazer a escolha seguinte com base num maior respeito por nós mesmos.

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3º – Não pensar no futuro
Parece um contrassenso, mas a verdade é que não devemos pensar no futuro.Eu explico. Isto não quer dizer que não se façam planos ou não se possa “voar” um pouco para a frente, mas não se deve ficar lá demasiado tempo, porque o futuro ainda não existe e afasta-nos de onde ele realmente se constrói: no hoje.

Quando digo que não devemos pensar no futuro é para evitar cairmos na armadilha muito comum de dispersarmos lá para a frente e não regressarmos prontamente para o presente. O futuro pode ser uma armadilha muito perigosa, porque faz-nos focar a nossa atenção no final e acabamos por não fazer a viagem como deve ser.

Já vos disse várias vezes, mas a verdade é que o resultado não é o mais importante. O mais importante é a atitude durante o durante, isto é, durante a viagem e tudo aquilo que vamos vivendo durante o presente. Não existe futuro sem presente, mas existe presente sem futuro.

Esta é uma das razões por que devemos viver intensamente o momento, quer ele seja bom ou menos bom para nós mesmos.
Infelizmente, na maior parte das vezes só temos consciência do momento quando algo de menos bom nos está a acontecer. A nossa atitude nestes momentos menos bons é querer fugir do momento e voar para o futuro. Com esta atitude, esquecemos o mais importante na gratidão: ela deve ser sempre a nossa atitude seja qual for o momento e não apenas quando tudo corre bem.

Lá à frente, podemos colocar esperança e fé, mas a gratidão é por aquilo que temos hoje, por aquilo que estamos a viver agora. Podemos sentir também gratidão pelo nosso passado, mas pelo futuro podemos apenas ter fé e esperança que seja de determinada maneira.

Por tudo isto, sermos gratos é vermos o lado positivo de tudo aquilo que nos está a acontecer, porque fomos nós quem o atraiu para aprendermos algo mais e nos respeitarmos ainda mais nas escolhas que vamos poder fazer diante dessa situação.

A gratidão é a chave para a felicidade. Sem gratidão, muito pouco existe na nossa vida. Só queremos mais e nunca estamos satisfeitos. Só queremos mais e não somos gratos pelo que já temos.

A verdade é apenas uma: sentirmos gratidão é percebermos que temos tudo o que precisamos hoje para darmos o próximo passo em frente na nossa vida.

Vivamos conscientemente e sejamos gratos! A felicidade fica sempre mais próxima, porque só teremos uma atitude feliz no dia em que formos gratos por tudo! Vamos a isso !




José Micard Teixeira é um escritor e coach português nascido em 1961 na cidade de Aveiro (Portugal). É Autor de 6 livros de autoconhecimento e dá palestras e workshops sobre os mais variados temas relacionados com a natureza humana e a sua evolução. Deixou em 2002 um cargo de director geral de empresas para seguir o seu sonho de comunicar com os outros a sua verdade e ajudar as pessoas a se encontrar. Dá consultas de Coaching Pessoal e Profissional via Skype para todo o Mundo. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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