Eu não sou mulher de forno e fogão, mas limpar é comigo mesma.

Limpar a casa me relaxa, é apenas a hora para uma terapia comigo mesma. Pego meu fone de ouvido e pronto, está instalado a sessão “Amélia”.

Sou uma mulher de verdade, mas não sou dona de casa. Sou dona de mim mesma e da minha profissão que amo: educadora.

Até me atrevo na cozinha algumas vezes, porém não sou mestre cuca e muito menos cozinheira. Me atrevo no básico com pitada de boa vontade. Limpar me ajuda a aliviar o estresse, porque me coloca diante de situações pendentes que precisam ser resolvidas.

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Entre vassoura, rodo e material de limpeza, soluciono todos aqueles probleminhas que estão me incomodando, nem que seja em pensamento. A música vai me ajudando a não pensar no que precisa ainda fazer, então, aos poucos, vou terminando tudo em um passe de mágica.

Não tem como sair de cena quando é preciso ter o controle da família, dos filhos, da casa e da profissão. Não tem como fechar os olhos e fingir que não é preciso limpar, comprar o que falta, pagar as contas e ainda estar linda e sorrindo – sem cansaço – para os outros.

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Às vezes me pergunto: onde arrumo tanta dedicação e esforço? É ser mulher. Mesmo com as horas contadas, faço questão de sorrir, de tratar bem as pessoas e dar atenção para quem precisa. Resolvo bilhares de coisas em menos de vinte e quatro horas, e não sou fada, nem bruxa, sou mulher.

Não quero mais horas no meu dia, não! As horas são suficientes, sou eu quem atropelo o tempo quando não consigo me organizar nos dias.

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O tempo tem a mania de querer fugir, se esconder, no entanto só depende de nós acharmos a melhor oportunidade e quando convém.

A verdade é que não somos flexíveis quando não queremos ou temos interesse, então colocar desculpas na falta de horas durante os dias, é mais consolador.

Há um bom tempo tenho traçado metas para vencer os compromissos, estou melhorando em como ser mais produtiva e menos compromissada. Não quero vida estressada o tempo todo e nem olhar cansado que condena o quanto estou fazendo, quero sentir serenidade e transmitir, quem sabe, um pouquinho de calma.

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Sem confrontar com as horas suficientes de um dia, quero me achar nos segundos de atenção para os outros, nas palavras pacientes de amizade, sentar no sofá da sala para assistir filmes ou seriados com o meu filho, ligar para os meus pais sem a correria de um olá.

Não quero me sentir tomada de compromissos, quero me sentir livre. Não quero me sentir explodindo em ansiedade, quero um respirar sereno. Não quero que as expectativas ansiosas tomem conta das horas, porque quero apenas que os segundos demorem eternidades de bem viver. Quero apenas me achar dentro de dias calmos com horas infinitas de ser feliz.

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Quero dias para limpar a casa do meu jeito, mas também quero outros dias para sentar em qualquer lugar e ver o tempo passar sem horas marcadas. Ser mãe, profissional e dona de casa é missão possível quando decidimos ser de tudo um pouco, mesmo que ocupadas demais. Ao contrário da Amélia, tenho vaidades e sou mulher de verdade à minha maneira.




Simone Guerra é mãe, escritora, professora e encantada pela vida. Brasileira morando na Holanda. Ela não é assim e nem assada, mas sim no ponto. Transforma em palavras tudo o que o coração sente e a alma vive intensamente. Apaixonada por artes, culturas, línguas e linguagem. Não dispensa bolo com café e um dedinho de prosa.

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