Já muito se escreveu sobre este assunto, provavelmente demasiado. Não quero com isto diminuir ou criticar todas as outras teorias. Aceito a existência de qualquer uma. Na verdade, estou apenas a expor aquela que me faz mais sentido e que defendo depois de tudo aquilo que tenho investigado, testemunhado, estudado e sentido.

Com efeito, para viver melhor, é muito importante que tudo aquilo que você come e bebe, seja sem exageros e radicalismos. É muito importante todo o exercício físico que você pratique, desde que o faça de forma coerente e adequada à sua idade e condição física. É muito importante o lugar onde você mora e a qualidade do ar que respira todos os dias. É muito importante a qualidade dos seus hábitos diários. É muito importante o meio onde trabalhas e a quantidade de esforço e stress a que se sujeita. É muito importante sentir que está vivendo a vida que quer e sendo você mesmo nas tuas escolhas e decisões.

Com efeito, tudo isto é muito importante para que você tenha uma vida de maior qualidade. Mas não vale muito, se não estiver trabalhado o mais importante dentro de si.

Essa é a razão porque ficamos, muitas vezes, surpresos, quando sabemos que alguém que levou uma vida quase exemplar sofre de uma doença grave e, por vezes, chega mesmo a morrer. Não conseguimos entender o porquê e questionamos tudo e todas as teorias que existem, muitas vezes, como desculpa para justificarmos os nossos desleixos e descuidos nesta matéria.

Nada justifica termos uma vida de maus hábitos. É fundamental cuidarmos da nossa saúde física, mental e emocional. É essencial sentirmos aquilo que entendemos ser o melhor para nós, aquilo que o nosso corpo pede e reclama, aquilo que tem a ver conosco, e não aceitarmos tudo o que os outros acham ser o melhor para nós.

Eu faço ginástica regularmente, três vezes por semana. Faz-me sentir bem com o meu corpo e dá-me uma preparação física de que me orgulho com os meus 56 anos. No entanto, apesar dos meus professores me indicarem determinados exercícios, é sempre o meu corpo que me diz se devo continuar com eles. O grau de prazer que sinto em fazê-los (e não de facilidade) determina a sua ou não continuação. O meu corpo tem de sentir-se bem ao fazê-los, tem de dizer-me que o que está a sentir é o melhor para ele. E eu o escuto sempre.

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O mesmo acontece com o que comes e bebes, com os esforços a que você se sujeita no trabalho e noutras áreas da sua vida, e com quem está compartilhando o seu viver. Eu faço o mesmo. Tudo deve ser um prazer. Tudo deve fazer-me sentir que estou fazendo bem a mim mesmo.

Na dúvida, não faço nada e espero que o meu corpo e/ou eu mesmo sintamos que devemos fazê-lo. É uma mistura de instinto (não podemos esquecer que primeiro de tudo somos animais), intuição e sabedoria interior (a nossa própria sabedoria).

Agora, a verdade é que tudo isto não é suficiente, se você não tratar o mais importante dentro de si. Sabes do que se trata?

Daquilo que o sustenta intimamente, daquilo que o faz acreditar no que você é e no que não consegues ser, daquilo que o prende, frustra, entristece, amargura, amedronta, fragiliza, de todas essas emoções que você mantém alojadas bem no meio do seu peito, ali onde a sua vida se cristaliza sem deixá-lo ser livre interiormente:

– A relação que você teve com seus pais na infância
Não com os seus irmãos, nem avós, nem amigos, nem com mais ninguém. Apenas com os seus pais.
Pode parecer um exagero isto que estou afirmando, mas pense bem nas perguntas que vou acrescentar:

– Pelo que você culpa seus pais na sua vida?
– O que recrimina em si mesmo, por ser igual a um dos seus pais?
– O que lamenta não ter dos seus pais?
– O que critica neles, sem entender ou perdoar?

Se responder honestamente a estas perguntas, perceberá a razão dos seus pais ainda invadirem tanto a sua vida, mesmo se não estiverem mais presentes.

Lembre-se de que as mensagens que você recebeu deles na sua infância tornaram-se as suas verdades. Com os anos, você começou a aceitá-las como suas ou a querer mudá-las sem sucesso. Um dia, acreditou que não podia fazer nada para mudar isso, porque tinham-lhe tornado em que você é. Ou então, passou a culpá-los de tudo aquilo que você se tornou, passando a viver numa surda ou manifesta revolta.

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O importante não é a infância que você teve, mas a infância em que ainda se permite estar hoje. Muitos de nós, quando estamos na presença dos nossos pais, voltamos a ter a idade em que mais fomos afetados. Conheço adultos que se sentem com 6 anos ou com a idade em que mais foram marcados pelos seus progenitores.

Os sentimentos e emoções que experimentamos hoje são iguais aos da nossa infância com os nossos pais. Estamos mais velhos e parecemos mais maduros, mas essas feridas estão na base de todas as nossas escolhas e atitudes para conosco e a nossa vida. Até podemos achar que não ou acreditar que já superamos isso, mas essas marcas não desaparecem sem um trabalho de consciencialização e uma grande dose de coragem para enfrentar aquilo que vivemos no passado, com os olhos do adulto que somos hoje.

Trabalhar essas emoções implica aceitar que os nossos pais foram o que souberam e quiseram ser conosco. Perpetuar isso como nosso é querer continuar a dar-lhes hoje o mesmo poder que tiveram sobre nós quando éramos pequenos. Culpá-los por sermos quem somos e pela vida que temos é o mesmo que dizer que não conseguimos mudar nada e que estamos condenados a ser sempre assim.

Ora é precisamente esta atitude que nos leva a ficar doentes. Sentimentos de culpa e muitos outros em relação aos nossos pais marcam-nos nas mais variadas partes de nós, das nossas escolhas, mas, sobretudo, do nosso corpo.

O nosso corpo é o reflexo da criança triste que ainda somos. Se não mudarmos nada do que trazemos desse tempo e que nos magoa ou faz sofrer, com essas emoções, causamos danos ao nosso corpo. Não tem como não ser assim. Tudo aquilo que sofremos hoje tem a ver com a criança triste que ainda existe dentro de nós. Essa tristeza vem da relação que tivemos nos primeiros 6 anos de vida com os nossos pais e com mais ninguém. Não devemos culpar os nossos irmãos, tios, ex-companheiros, filhos, avós, amigos, colegas, etc, porque os únicos responsáveis são os nossos pais. A nossa relação com todos estes é baseada na relação que temos com os nossos pais e naquilo que eles nos fizeram acreditar sobre nós mesmos.

Mas não vamos culpar os nossos pais, porque fizeram o que sabiam e podiam dentro das lacunas da criança triste que existia também dentro deles. Como nunca conseguiram resolver as questões provenientes da sua infância, lançaram sobre nós a revolta, a amargura, a frustração, o medo que ganharam na sua relação com os seus pais, aquilo que determinou a criança triste em que se tornaram.

Ora, para resolver isto e, assim, evitar danos muito grandes no nosso corpo, torna-se fundamental passar por quatro fases:

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– Aceitação do que foi a nossa infância e do que criou a criança triste que existe dentro de nós
– Identificação do que hoje nos magoa ou faz sofrer na relação com os nossos pais (ou na sua lembrança, se já tiverem partido, porque a dor continua lá)
– Viagem ao passado para conversar com a criança que fomos e dizer-lhe o que deve fazer para resolver as situações emocionais que está a viver nessa altura com os pais
– Aplicação desses mesmos conselhos connosco hoje, de forma a curar a criança triste que ainda vive dentro de nós

Fazendo isto, estamos transformando a nossa criança triste numa criança tranquila e, consequentemente, alegre. Assim, todos os bloqueios emocionais no nosso corpo, referentes à nossa infância com os nossos pais, serão dissolvidos e ficaremos muito mais saudáveis.

Muitas vezes, já vamos demasiado tarde e os problemas físicos já se cristalizaram e a doença já está instalada. No entanto, durante o processo de tratamento da doença, se resolvermos estas questões da nossa criança triste, todo o nosso corpo ainda reage a tempo de se querer sarar e aceita os tratamentos a que é sujeito. O corpo reage positivamente porque a criança fica tranquila e quer continuar a viver.

Como vê, a sua saúde não depende diretamente do que faz para melhorá-la, se não resolver estas situações da sua infância com os seus pais. Obviamente que o ajudam a ter uma vida melhor e mais saudável, mas sem a parte emocional da sua criança triste tratada, as doenças podem surgir a qualquer momento na sua vida.

Não quero com esse texto preocupá-lo. Quero apenas ajudá-lo a entender esta parte da sua vida e a poder resolvê-la dentro de você.

Se por acaso, você não consegue fazer todo este processo sozinho, procure ajuda qualificada. A sua saúde e, consequentemente, a sua vida precisam desse seu compromisso. E lembre-se disto: um compromisso consigo não pode ser uma obrigação. Deve, antes de mais nada, ser o que o liberta daquilo que lhe faz sofrer.

(Imagem: Brittany Colette)




José Micard Teixeira é um escritor e coach português nascido em 1961 na cidade de Aveiro (Portugal). É Autor de 6 livros de autoconhecimento e dá palestras e workshops sobre os mais variados temas relacionados com a natureza humana e a sua evolução. Deixou em 2002 um cargo de director geral de empresas para seguir o seu sonho de comunicar com os outros a sua verdade e ajudar as pessoas a se encontrar. Dá consultas de Coaching Pessoal e Profissional via Skype para todo o Mundo. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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